sexta-feira, 22 de março de 2013

Gravidez não Planejada e os Aspectos Psicológicos da Gravidez

A notícia da gravidez, o processo de gestação, o parto e o puerpério constituem situações muito importantes para a mulher. Promovem alterações físicas no corpo feminino, porém todos ficam emocionalmente envolvidos pela perspectiva do nascimento. A intensidade das alterações psicológicas depende de fatores individuais, familiares, conjugais, culturais e da personalidade. O período gravídico-puerperal é a fase de maior incidência de transtornos psíquicos na mulher, necessitando de atenção especial para manter ou recuperar o bem-estar, e prevenir dificuldades futuras para o filho. Isso exige obstetras, pediatras, psicólogos e psiquiatras especializados, capazes de auxiliar a mãe a crescer, sempre dentro dos limites do possível e da realidade (Pavesi, 2001).
Para Maldonado (1985) a gravidez é uma transição que faz parte do processo normal do desenvolvimento. Envolve a necessidade de reestruturação e reajustamento em várias dimensões, especialmente no que se refere à identidade e à definição de papéis, tanto para a mulher quanto para o homem. A mulher passa a se olhar e a ser olhada de uma forma diferente, no caso da primípara, a gravida além de filha e mulher passa a ser mãe, mesmo no caso da multípara, verifica-se uma certa mudança de identidade, pois ser mãe de um filho é diferente de ser mãe de dois e assim por diante. Isso pode trazer à tona antigos conflitos de relacionamento com pais, irmãos e outras figuras da família, bem como do próprio casal. Também pode evidenciar experiências agradáveis vividas na família de origem ou no próprio casamento. As relações estabelecidas com amigos, colegas de trabalho e conhecidos também influenciam na gravidez. A qualidade dessa influência depende da negatividade ou positividade das pessoas. Pavesi (2001) diz que a gravidez pode contribuir para aperfeiçoar o casamento e a família, mas, por outro lado, pode constituir-se em uma ameaça ao equilíbrio pessoal, conjugal e familiar.
Conforme assinala Jongenelen e Soares (1999) nos últimos trinta anos a gravidez tem sido estudada como uma fase de desenvolvimento psicológico de maior importância.
Desta forma, a gravidez é concebida como um período de desenvolvimento, sendo caracterizada pela necessidade de resolução de tarefas especificas.
A primeira tarefa é: aceitar a gravidez, que diz respeito à necessidade de reconhecer a gravidez e aceitar sua realidade, para poder lidar com as tarefas subsequentes deste período, passando deste modo pela aceitação das mudanças que esse estado concretiza;
A segunda tarefa é aceitar a realidade do feto, no início da gravidez o esquema cognitivo que a mãe tem do bebê é indiferenciado, no qual a “gravidez” e o “bebê” são vistos como uma unidade, aos poucos a autonomia do feto começa a ser percebida, a representação do bebê torna-se mais realista através dos movimentos fetais, deste modo à verdadeira sensação de maternidade na mulher poderá coincidir com a primeira sensação real do bebê dentro de si própria. A mãe começa então a procurar um estado de sintonia entre o seu comportamento e a do feto.
A terceira tarefa é: reavaliar a relação com os seus pais, enquanto o feto esta se tornando real para a futura mãe, esta sentirá uma necessidade de reavaliar e recapitular a relação passada e presente com seus pais, para que um novo equilíbrio seja encontrado.
Nesta seqüência, surge uma outra tarefa que é reavaliar o relacionamento com o cônjugue/companheiro – que envolve lidar com as novas questões do relacionamento, uma vez que a maternidade vai implicar a passagem da unidade de casal a família, o que implica em uma nova aliança emocional, a aliança parental, no sentido de comunicar em torno de questões relativa ao futuro e partilhar experiências e decisões sobre a criança.
Aceitar o bebê como uma pessoa separada é outra tarefa, onde a mulher terá de se desligar da gravidez para aceitar o bebê como pessoa separada, e como tal um indivíduo com necessidades próprias e específicas.
Desta forma, a resolução adequada dos tarefas acima citadas, possibilitará uma resposta mais adequada face às mudanças que a gravidez acarreta, bem como lidar com os novos papéis e com as relações em transformação que resultam da gravidez (Jongenelen e Soares, 1999).
Maldonado (1985) descreve que uma relação saudável implica em termos gerais em perceber e satisfazer adequadamente as necessidades do bebê, este visto com indivíduo separado e não simbioticamente confundido com a mãe, ao contrário, uma relação doentia, caracteriza-se pela expectativa de que o bebê preencha certas necessidades neuróticas da mãe ou do pai, como por exemplo, evitar a solidão, satisfazer a carência do afeto e fazê-los sentir-se úteis.
Para Soifer (1992) toda gestação implica de inicio em uma ambivalência básica: de um lado o desejo de ter a criança, ou seja, sua aceitação, e do outro, a rejeição à gravidez, o temor da gestante de ser destruída pela gestação. Esta rejeição não é especifica ao filho, mas sim uma postura defensiva diante dos temores gerados que levam a mãe a fantasias ou sintomas de rejeição.

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